sexta-feira, 3 de agosto de 2007


O sonho


É no éter que me encontro, rasgada, dissoluta. A alma vaporizada de encontro ao vazio balança, leve, cheia de nada, envolvida de tudo. Fragmentos de mim flutuam no ar etéreo; a minha mente perdida no vácuo adormece no sei abismal.
O rumor da vaga interrompe o silêncio do meu quarto; o mar ondula na parede; a leve brisa entra, irreverente, pela janela entreaberta, toca ao de leve no meu corpo adormecido. Inconscientemente me inquieto, indiferente à realidade. A maresia
procura-me, inquieta; invade, teimosa, as minhas narinas, mas eu não a sinto.
Perdida no segredo que a noite desenvolveu, embalada pelo capricho dos pensamentos, mergulhada no sonho como pedra afogada no oceano...É no éter que me encontro e a minha alma sorri, iluminada pelo teu desejo. O teu toque é mais doce e o som refrescante do riacho percorre silenciosamente o meu corpo. Percorro um arrepio e o cantar dos pásssaros brinca inocentemente dentro de mim. Adormecida no absoluto, perdida no êxtase, nada sinto. Tocas-me, lentamente, as tuas mãos perdem-se no meu corpo triste. Deliciosamente me sinto, perdida, dentro de mim. O desejo brinca no meu corpo mas a consciência amadurece. As ondas ecoam na minha alma adormecida e o meu pensamento estremece, desperto. As tuas mãos, leves farrapos que desaparecem nessa longa estrada que é o meu corpo. Viajam, sozinhas, sem permissão minha, sem despedida nem pranto. E levavam o meu corpo, soturno, contrafeito, fora da minha alma. Vejo o meu sonho, partir, apressado, não sei onde. Sinto o meu rosto humedecido pela tristeza, um ardor dentro de mim. Duas mãos me forçam, me puxam em direcção ao nada. A minha alma voltou ao meu corpo. Os meus olhos despertaram assustadoramente. Em volta a calma suspira e as gaivotas contrariam o silêncio embalado pela brisa que vem do mar. A manhã desfaz-se em rasgos de luz. O mar brilha em reflexos de ouro e o sol vem descansar ao meu tapete.
Não estavas. O sonho desfez-se em mil pedaços de ilusão e o meu corpo adormeceu sobre a minha alma vazia. Na face, o vestígio de um triste sonho eterno.
 
posted by sónia at 17:55 |


3 Comments:


  • At terça ago. 14, 05:18:00 da tarde, Anonymous Anónimo

    Gostei do texto. Sei que não é dos teus preferidos mas eu não creio que não obedeça ao teu novo género de escrita, antes pelo contrário. É uma história interessante, bem escrita, na minha opinião, e que estabelece a ponte entre a tua nova maneira de escrever e a antiga.

    Beijos e boas férias!

     
  • At sexta set. 07, 11:31:00 da manhã, Anonymous Anónimo

    Um bonito texto, onde retratas o sonho na sua forma mais real, demonstrando não só que por vezes os sonhos não podem corresponder à realidade como também como é um sonho, como nos sentimos quando sonhamos e consecutivamente quando estamos a despertar. Amei!
    Beijinhos e parabéns!

     
  • At sexta set. 07, 11:32:00 da manhã, Anonymous Anónimo

    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

     

Nome: Sónia Correia
Idade: 21
Cidade: Almada
Profissão: Estudante
E-mail: scorreia.sc86@gmail.com

A vida é um mar de espinhos
onde rosas navegam
num abismo ardente

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