sexta-feira, 17 de agosto de 2007


Ausência


Perdi-me, dentro de mim
para te procurar

as sombras suspiram, incrédulas:
inquietas flores de desejo

Ardente estrada é o meu corpo
Caminho sem despedida nem encontro
Pois ainda hoje não sinto as tuas mãos
Nem o teu corpo no meu olhar
 
posted by sónia at 10:16 | 6 comments

segunda-feira, 6 de agosto de 2007


Longe


A saudade procurou-me. Trazia o teu nome impresso em letras de ouro numa rajada de seda. Não a mandei embora. Abri-lhe a porta e pedi-lhe que me falasse de ti. Desde que cheguei esqueci-me de tudo, perdi-me de todos. Esqueci a cidade e o brilho dos seus candeeiros famintos, esqueci o álccol que derrama o seu cheiro nas ruas nocturnas, o pão a sair do forno todas as manhãs, o café na chávena a fumegar de calor, o sorriso da amizade sem preço. Estou longe, perdida do mundo. E até é melhor assim, sabes? Por vezes é bom afastarmo-nos do mundo, penetrarmos em nós, sentirmo-nos o centro de nós próprios, refugiarmo-nos em nós, adormecer sobre nós mesmos. E este local é o melhor que me podias deixar para me procurar, para me encontrar dentro de mim. Principalmente porque continua a exibir vestígios de ti. Sinto os teus passos ausentes no soalho de madeira, a humidade do teu corpo na toalha seca, o teu gesto nos meus cabelos quando o vento beija o meu rosto. O mar parece mais calmo, como se a tua alma não se tivesse desprendido do teu corpo e navegasse nele. Os pescadores ainda lançam as redes e as gaivotas continuam a entoar o seu canto. Tenho medo do mar mas ao mesmo tempo desejo entrar nele para te encontrar. Já não choro ao olhá-lo pois o desgosto gastou a água que havia dentro de mim.
A manhã acorda sorridente, a noite fecha-se, sem estrelas, no meu coração, terrivelmente escura, terrivelmente sem ti. A vida caminha para ontem; perdi-me nos meus dias e as horas não sabem a sal.
Demorei a perceber. Já não faço nada aqui. Pois, meu amor, eu procuro-te mas ainda te sinto em mim.
Vou indo, com saudade, mas na praia as tuas pegadas ainda hoje consomem o sal do mar.
Não abri a porta à saudade para ela sair, não me despedi e ela ainda hoje não me diz adeus.
 
posted by sónia at 19:38 | 4 comments

sábado, 4 de agosto de 2007


Sensação


Por vezes sinto o universo sob o meu corpo, qual pena de ave perdida no devaneio. O vento abraça-me numa lentidão sôfrega, a frescura aquece-me por dentro, o calor arrepiante humedece a minha pele doce. Múrmurios inquietos dentro de mim são silenciados pelo vento revolto. Quero ouvir-me, mas a tarde entrou, agreste, dentro de mim.
 
posted by sónia at 16:03 | 4 comments

sexta-feira, 3 de agosto de 2007


O sonho


É no éter que me encontro, rasgada, dissoluta. A alma vaporizada de encontro ao vazio balança, leve, cheia de nada, envolvida de tudo. Fragmentos de mim flutuam no ar etéreo; a minha mente perdida no vácuo adormece no sei abismal.
O rumor da vaga interrompe o silêncio do meu quarto; o mar ondula na parede; a leve brisa entra, irreverente, pela janela entreaberta, toca ao de leve no meu corpo adormecido. Inconscientemente me inquieto, indiferente à realidade. A maresia
procura-me, inquieta; invade, teimosa, as minhas narinas, mas eu não a sinto.
Perdida no segredo que a noite desenvolveu, embalada pelo capricho dos pensamentos, mergulhada no sonho como pedra afogada no oceano...É no éter que me encontro e a minha alma sorri, iluminada pelo teu desejo. O teu toque é mais doce e o som refrescante do riacho percorre silenciosamente o meu corpo. Percorro um arrepio e o cantar dos pásssaros brinca inocentemente dentro de mim. Adormecida no absoluto, perdida no êxtase, nada sinto. Tocas-me, lentamente, as tuas mãos perdem-se no meu corpo triste. Deliciosamente me sinto, perdida, dentro de mim. O desejo brinca no meu corpo mas a consciência amadurece. As ondas ecoam na minha alma adormecida e o meu pensamento estremece, desperto. As tuas mãos, leves farrapos que desaparecem nessa longa estrada que é o meu corpo. Viajam, sozinhas, sem permissão minha, sem despedida nem pranto. E levavam o meu corpo, soturno, contrafeito, fora da minha alma. Vejo o meu sonho, partir, apressado, não sei onde. Sinto o meu rosto humedecido pela tristeza, um ardor dentro de mim. Duas mãos me forçam, me puxam em direcção ao nada. A minha alma voltou ao meu corpo. Os meus olhos despertaram assustadoramente. Em volta a calma suspira e as gaivotas contrariam o silêncio embalado pela brisa que vem do mar. A manhã desfaz-se em rasgos de luz. O mar brilha em reflexos de ouro e o sol vem descansar ao meu tapete.
Não estavas. O sonho desfez-se em mil pedaços de ilusão e o meu corpo adormeceu sobre a minha alma vazia. Na face, o vestígio de um triste sonho eterno.
 
posted by sónia at 17:55 | 3 comments

Nome: Sónia Correia
Idade: 21
Cidade: Almada
Profissão: Estudante
E-mail: scorreia.sc86@gmail.com

A vida é um mar de espinhos
onde rosas navegam
num abismo ardente

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